quarta-feira, 31 de julho de 2013

VITÓRIA DO POVO!

RESISTÊNCIA OBRIGA PODERES CONSTITUÍDOS A SUSPENDER REINTEGRAÇÃO DE POSSE DA OCUPAÇÃO NOVO AMANHECER

A Prefeitura de Aracaju apostava numa operação “simples”, sem muitas complicações, quando articulou um aparato repressivo para despejar as 311 famílias da Ocupação Novo Amanhecer e dar um duro golpe na mobilização popular. Mal sabiam os gestores municipais e estaduais que o verdadeiro e certeiro golpe seria dado pelo povo, numa clara demonstração de coragem contra a opressão diária que se sintetiza com especial crueldade entre as famílias desse foco de resistência no Bairro 17 de Março, em Aracaju-SE.
Foto: Victor Balde

Desde as primeiras horas da manhã de terça, dia 30 de julho de 2013, quando começaram a chegar as unidades policiais, estava claro que um novo patamar de organização e resistência estava montado – cenário muito diferente do primeiro despejo, realizado em março de 2013, quando as famílias foram despejadas de suas casas e, por conta disso, se aglutinaram na ocupação. A visão das barricadas, claramente surpreendeu os policiais, inflando ainda mais o ânimo dos ocupantes que preparavam a resistência durante toda a madrugada para resistir naquela manhã ensolarada.

Aos poucos, os reforços policiais iam chegando, assim como os reforços da resistência: desde diversos movimentos sociais e entidades de luta, até pessoas que vieram prestar sua solidariedade libertária e de luta para a resistência, passando, obviamente, por figuras tarimbadas no cenário político partidário querendo sua casquinha. Para completar o palco, a mídia parecia estar realmente ao lodo do povo, aliviando os tendenciosos desvios de abordagem proporcionados por anos de bajulação e subserviência à comunicação oficial.

Foto: Victor Balde

Foram oito horas de resistência. Oito longas horas debaixo de sol a pino, sobre o chão que sempre foi palco de humilhações do poder constituído e que agora servia de tablado para uma demonstração clara de que os tempos são outros. A resistência montada, com barricadas, escudos, coletes, máscaras de gás, tudo artesanal e produzido em mutirão dos ocupantes durante a madrugada mandou um recado claro para quem acha que detém o poder de reprimir o povo: não há poder que possa com a organização popular!


CAMINHOS JURÍDICOS
Foto: Victor Balde
A vitória do povo conquistada foi fruto de uma soma entre a resistência popular e a atuação dos advogados da Ocupação Novo Amanhecer, Igor Frederico e Leonardo Lobão, com uma importante contribuição da Defensoria Pública para encontrar os meios legais de impedir que mais essa injustiça fosse cometida contra essas famílias. Igor explica que havia duas ações em pauta: a de reintegração de posse, em favor do município e contra os ocupantes, da qual ele era o advogado, e uma Ação Civil Pública, movida pela Defensoria Pública e acatada pelo juiz da 3ª Vara Cível da Comarca de Aracaju, Luiz Eduardo Araújo Portela.

Essa ação determina que a Prefeitura Municipal de Aracaju identifique não só as famílias da Ocupação Novo Amanhecer, mas também das comunidades do Arrozal, Água Fina, Preol, Morro do Avião, Marivan e Prainha que residem em áreas de risco, fazendo o cadastramento e possibilitando que o cidadão possa saber da efetivação dos projetos habitacionais. O município é obrigado também a realizar avaliação para concessão de auxílio moradia, disponibilizar no site da Prefeitura a relação das pessoas cadastradas e beneficiadas no prazo de 120 dias sob pena de multa diária de R$ 5 mil.

Nada disso intimidou a prefeitura a solicitar junto à justiça a reintegração de posse agendada inicialmente para o dia 4 de julho, o que não se concretizou devido a um ofício emitido pela Polícia Militar do Estado de Sergipe destacando que a Prefeitura não disponibilizou apoio logístico necessário à operação. A liminar autorizando a primeira tentativa de reintegração foi suspensa e um novo processo foi encaminhado pela Prefeitura, incansável no objetivo de dispersar as famílias em luta por moradia.

Foto: Victor Balde
Assim, após cadastramento das famílias, uma nova tentativa de reintegração foi aprovada pelo mesmo juiz Rafael Reis, da 12ª Vara Cível, iniciando um processo de mobilização constante entre as famílias para chamar a atenção de toda a sociedade para a arbitrariedade e truculência que estava para acontecer.
Sobre essas duas ações, Igor destaca ainda que as elas têm uma ligação quase que umbilical.

“Na ação de reintegração de posse, o juiz deferiu a liminar autorizando o município a proceder ao despejo da população. Entretanto, na Ação Civil Pública, havia uma decisão no sentido de obrigar o município a cadastrar todas as pessoas daquela ocupação e de localidades adjacentes. Então nós entendemos que para cumprir a decisão da 3ª Vara é necessário que se suspenda a liminar de reintegração de posse até que o município termine todo o procedimento determinado na decisão judicial”, destaca o advogado.


LUTA, REALIDADE E DISTORÇÃO
Foto: Victor Balde
A brava resistência montada pelos ocupantes e a visibilidade que o caso obteve na grande mídia, nas redes sociais e mídia alternativa abriu terreno para que os advogados conseguissem suspender a ação. “Nós [os advogados da Ocupação] estivemos em reunião com o juiz Rafael Reis e argumentamos bastante até que, após a reunião, ele avisou que havia decidido pela suspensão da liminar de reintegração baseando-se em relatório da PM-SE sobre a situação”, aponta Igor.

Foto: Victor Balde
É importante frisar que toda ajuda foi primordial para que fosse alcançado o objetivo de impedir a dispersão dos lutadores da Ocupação Novo Amanhecer. Entretanto, nesse momento surgem figuras conhecidas do cenário político local que, aproveitando-se da vitrine proporcionada pelo acontecimento de terça, posam de decisivos na vitória que cabe, no final, ao protagonismo do povo em resistência. Quem durante os quatro meses de existência da ocupação não prestou um auxílio sequer não pode agora posar como salvador (a) da pátria.

Assim, a luta segue em frente, como um novo ânimo pela vitória nessa batalha decisiva e sempre com o povo na trincheira, erguendo barricadas para resistir à opressão. Que o exemplo do 30 de julho de 2013 inspire a luta não só por moradia, mas a todos os que lutam contra as injustiças e opressões.

Foto: Victor Balde



Foto: Victor Balde



Foto: Victor Balde

Foto: Victor Balde

Foto: Victor Balde


terça-feira, 30 de julho de 2013

Ocupação Novo Amanhecer resiste às injustiças!

"Quero lutar por minha moradia". Assim, com esta frase, mais uma moradora da Ocupação Novo Amanhecer, bairro 17 de Março, inicia a sua manhã hoje, 30, sobre a horrível sensação de despejo.  Enquanto a prefeitura de João Alves insiste em ser contra o povo e a favor dos empresários, 311 famílias formada por homens, mulheres, crianças e idosos vivem em condições subumanas com o único propósito de conquistar direitos para viver - e não mais sub-viver, como querem os governantes. É também com este espírito que Dioleide, 37 anos, dá seu depoimento sobre todo o sofrimento que ela e centenas de amigas e amigos seus vêm passando. Acompanhe:


quinta-feira, 25 de julho de 2013

PREFEITURA QUER DESPEJAR OCUPAÇÃO NOVO AMANHECER

DIREITOS HUMANOS URGENTE!!!

Um oficial de justiça e um cabo da Policia Militar foram na Ocupação para comunicar que na manhã de terça, dia 30 de julho, às 6h, vão proceder a reintegração de posse da área onde hoje se encontra a Ocupação Novo Amanhecer – 17 de Março, com forte aparato policial.

O oficial informou que a prefeitura mostrou o cadastro para a polícia dizendo que está pronto o seu papel e já podia despejar a população. Lembrando que, com o cadastramento feito na semana passada, a Prefeitura não garantiu auxílio-moradia ou moradia popular para nenhuma das 311 famílias.

A Ocupação Novo Amanhecer já decidiu RESISTIR e chama todos os lutadores, apoiadores, indignados com a injustiça a se somar nesta solidariedade e Luta.

Importante salientar que a liminar de reintegração de posse está suspensa e não existe permissão para que a reintegração seja procedida. Ou seja, se for realizada, será uma ação ilegal por parte da Prefeitura de Aracaju e da Polícia Militar do Estado de Sergipe.

Contato:
Dr. Igor (advogado): 9983-5665
Anthony 9969-7580


Página do Facebook: Ocupação Novo Amanhecer

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Prefeitura começa cadastramento das famílias da Ocupação Novo Amanhecer


Desde a manhã desta segunda, dia 15, a Prefeitura de Aracaju começou a cadastrar as famílias da Ocupação Novo Amanhecer, no Bairro 17 de Março. Até a manhã de quinta, dia 18, mais de 200 famílias foram cadastradas.

Segundo os funcionários da Prefeitura, o cadastramento continuará, mas não garante o auxilio moradia. Para Anthony dos Santos o cadastramento representa uma vitória parcial. "Mas a luta é pela moradia ou auxilio garantido para todas as famílias. Enquanto isso, a ocupação permanece", garante.

Contato:
Anthony 9969-7580
Badá 9936-5902


Página do Facebook: Ocupação Novo Amanhecer

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Vida de Ocupante - Mauro Trapezista

*Por Vinícius Oliveira

Mauro era uma cara alto, magro,sempre com boné aba reta e aquela fala malandra agilizada. Nasceu na Terra Dura, quando ainda tinha uma pontezinha que ligava o bairro ao resto da cidade, nem luz de celular tinha naquela época, a luz que iluminava era a da cabeça.


Mauro trapezista ganhou seu apelido em uma pelada, fez um gol e se pendurou na trave, subiu em cima do travessão e começou a caminhar. Coisa de criança, metida a besta por derrotar todo mundo sem pedir próxima. Como bom trapezista oscilou entre a infância e a grana. entregava uns pacotinhos que os meninos mais velho da rua pedia pra uns conhecido de outra parte da cidade. Tirava uma grana e vacilava entre o dinheiro do pão da casa, o leite dos irmãos e a camisa de jogador de Basket ou aquele tênis de marca.

Mauro ficou na corda bamba quando conheceu a polícia militar, tava andando de skate, indo pro baba. Era suspeito, foi revistado 3 vezes, xingado 15 vezes, e teve sua mãe insultado dezenas de vezes. A polícia não achou bagulho algum, mas encontrou uma diversão. Mauro ia passar na pontezinha correndo com as pernas amarradas enquanto os policias atiravam na direção da perna dele. Não tinha trapezista que escapasse. Mauro caiu no córrego, entre as pedras, lascou a cabeça, quebrou a perna e jorrou muito, mas muito ódio. 

Atendido horas depois, o ódio tinha estancado, talvez isso manteve ele vivo, enquanto esperou 12 horas pra ser atendido na emergência do hospital público. Os brothers na volta do baba que levaram ele de bike até o hospital do outro lado da cidade. Ambulancia não passava lá. Mauro criou medo de altura depois do ocorrido.

Mauro Trapezista entendeu o recado, tinha que escolher um lado. Já era condenado por nascença, pela cor, pela palavra, pelo jingado e pelo estilo. Escolheu o crime! Virou narco-comerciante. E com dinheiro no bolso e mandinga na língua, não foi mais incomodado pela polícia. Ganhou o respeito dos irmãos.

Mauro perdeu o equilibrio de novo. Na mesma ponte da sua infância conheceu o amor. Rafaela, morena esperta e distante. Novinha, com uma bunda de perder o folego. Mauro queria sentir aquele trapézio das pernas. Mandou a fita de malastroso e a novinha dispensou.Dispensou, dispensou, até que num daquele shows, com a cerva na cabeça, os dois se atracou.

Mauro perdeu a linha, "tava vacilando" dizia os brothers. Atrasou a distribuição do bagulho aos outros brothers, resultado, vacilão na perifa não perde só a vez, as vezes perde a vida. Os inimigos descobriram e foram pra cima de Mauro. Pá, pou, pá, pou,pá,pou,pá... Resultado: 5 tiros. Por sorte nenhuma na cabeça! Por mais sorte ainda, Mauro foi de novo internado. Como num trapézio de uma montanha gelada e com muito vento, Mauro tava pendendo pra morte.

A morte também vacila, as vezes se adianta, as vezes se arrebita, e numa dessa esqueceu Mauro. Passou 7 meses em coma. O médico, que era de outra cidade já deixava o óbito pronto no final de semana, pra não precisar voltar pra assinar, só era preencher a data! Essa data ainda não ia ser preenchida nesse hospital.
Rafaela que não era vacilante, segurou a onda de Mauro, teve altas fights pros médicos não desligar as máquinas, pro hospital tava custando e não valia a pena. Eles argumentavam uma vida de um vagabundo pela de mães de família que passavam.

Disseram que ele não acordaria e Mauro se levantou. Diagnosticaram que ele não ia mais andar, e Mauro saiu correndo do hospital. Mas a fala dele nunca seria a mesma, alertou a medicina pública moderna, Mauro saiu cantando Brasil com P! Ao lado, Rafaela e a mãe com os irmãos.
Mauro decidiu pendurar-se no trapézio da vida ordinária. do Trabalhador honesto, tá certo, Rafaela e Edi Brown ajudaram um pouco na decisão.Edy Brown, seu muleque que tava chegando. Ficha limpa, não seria dificil. Arrumou oficio de pedreiro, e subiu logo na vida.

Anos passaram, Mauro trapezista conseguiu um trampo extra, na construção de um prédio, no solo claro. Mas no dia 4 de Julho de 2012, Mauro teve que subir por um colega,  lá no 18º andar, senão iam dar falta dele. Resultado: Mauro foi atravessa uma daqueles estruturas sem segurança que as construtoras colocam, e o barulho dos tiros e das risadas ecoou na cabeça. Mauro deslizou, ainda segurou num estrutra que parecia um trapézio, os amigos correram, mas não à tempo. A morte veio cobrar sua amnésia de anos passados.

Hoje, Rafaela equibra-se num trapézio da vida, morando em barraco luta pela sua casinha numa Ocupação por Terra e vida livre. A prefeitura pende,o sistema pende, a polícia pende, o governo prende, mas a solidariedade e coletividade faz ela se segurar. Por quanto tempo, ela ainda não sabe, mas como MAuro aprendeu que mesmo quando ainda tudo parece perdido, vale a pena se segurar.

*Sem correção ortográfica, nem emocional.