quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Povo de Aracaju e Carmópolis juntos contra a opressão do Estado, do capital e do peleguismo


O nome disso é solidariedade na luta: Novo Amanhecer e Conjunto N. Sra. do Carmo


Na quinta, dia 20, como muitos puderam acompanhar de forma distorcida na mídia hegemônica ou de forma mais transparente nos meios alternativos, o Estado burguês deixou cair mais uma vez sua máscara de bonzinho e mostrou toda a sua força de opressão pra cima do povo. Na Ocupação do Conjunto Nossa Senhora do Carmo, em Carmópolis, onde cerca de 400 famílias lutam por moradia, o dia 20 de novembro - dia da Consciência Negra - foi celebrado com mais uma ofensiva contra os direitos e dignidade da população negra e pobre de Sergipe.

A polícia humilhou batendo e prendendo. A grande mídia fez, de modo figurado, a mesma coisa, ao legitimar a opressão com uma absurda distorção dos fatos. Disseram que foi a resistência quem começou agredindo a polícia com pedras e a resposta foi a entrada da Choque. E ainda usaram um argumento ridículo de que 'haviam pessoas de Aracaju, que não tinham relação nenhuma com as famílias dessa invasão'.

Quer dizer que a polícia, o Estado, a mídia agora quer dizer o que temos ou não em comum? Que não podemos compartilhar do mesmo sofrimento e da mesma resistência pra superar isso? Pois saibam: a Ocupação Novo Amanhecer esteve sim presente na resistência das famílias de Carmópolis porque essa luta é de todos os que sofrem dia após dia com a opressão.

O que temos em comum, mais que parentesco ou morar no mesmo lugar, é o sofrimento, o descaso, a indignação e a resistência que nos torna irmãos e irmãs! Somos todos iguais e estaremos sempre presentes nas lutas um do outros e isso não para por aí: vamos fazer crescer cada vez mais esse sentimento de solidariedade e ajuda mútua entre os que sofrem e assim conseguiremos fazer com que as "derrotas" como a de ontem em Carmópolis sejam cada vez mais raras até que a opressão seja, definitivamente, derrotada.

Saímos mais fortes, ao contrário do que a mídia, a polícia e o Estado fazem parecer. Voltamos mais convictos que estamos fazendo a coisa certa, embora não houvesse um pingo de dúvida em nossos corações. Hoje voltamos pra Aracaju para cobrar do prefeito João Alves uma posição definitiva em relação ao nosso auxílio-moradia. Já são mais de oito meses vivendo em barracos. Vamos pra cima!


Leia nota do Movimento Terra Livre Sergipe sobre o ocorrido ontem:

Cada injustiça cometida contra o povo nos enche de energia para continuar na luta

Um pouco da luta da Ocupação no Conjunto Nossa Senhora do Carmo, em Carmópolis

O dia 20 de novembro de 2013 poderia ficar marcado como um dia triste para os movimentos sociais em Sergipe. No dia da Consciência Negra, um dia afirmativo de luta e resistência contra a opressão, a marca que ficou em nossas mentes, corações e corpos foi o das balas de borracha e a pele avermelhada irritada pelo gás lacrimogêneo. Esse é mais um caso da dura repressão promovida pelo Estado contra a população negra e pobre, num dia em que cerca de 400 famílias enfrentaram toda a truculência de uma Polícia Militar a mando da Prefeitura de Carmópolis, do Poder Judiciário e sem preparo humanístico para lidar com a população.


É importante contextualizar a luta: havia uma organização do MOTU que deixou a maioria das famílias muito insatisfeita com a condução dos encaminhamentos. Após uma negociação com participação da Comissão de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de Sergipe, havia uma demanda judicial determinando que a Prefeitura de Carmópolis cadastrasse e realizasse um estudo socioeconômico para atestar quais famílias teriam direito à moradia.

Entretanto, o MOTU aceitou um acordo proposto pelo Poder Judiciário a serviço da Prefeitura para a concessão de 100 casas, com critérios próprios e nada objetivos para definir quais famílias teriam direito ao benefício. Diante disso, cerca de 300 famílias que ficariam de fora dessa escolha que seria capitalizada com fins políticos, e não sociais, procuraram o Movimento Terra Livre para reorganizar a luta. 

Há uma clara diferença nítida entre a atuação dos dois movimentos. De um lado, o MOTU aceitou um acordo sabendo que haveria uma reintegração de posse que deixaria as famílias desamparadas, na rua e sem lugar para ficar. Mesmo assim, buscou desmobilizar o povo da ocupação para que a reintegração corresse sem transtornos para o cronograma da Prefeitura, que já preparava uma festa de inauguração do Conjunto N. Sra. do Carmo para o mesmo dia. Esse não é o papel de um movimento social, mas de uma assessoria que atua a serviço de um governo com orientação contrária aos interesses do povo.

O resultado foi a expulsão do MOTU por parte da comunidade, processo que teve a intermediação do Terra Livre relativamente limitada à proteção da integridade física dos integrantes do movimento rechaçado. Esses, por sua vez, ao tempo todo buscaram acusar de oportunismo a atuação do Terra Livre, a despeito do fato de que foi a maioria da comunidade não contemplada por esse acordo desleal que teve a iniciativa de buscar uma nova forma de organizar a comunidade para atender à necessidade de todas as famílias.

Do outro lado, atendendo ao chamado da comunidade insatisfeita com esses acordos que deixaram de fora três quartos das famílias, o Movimento Terra Livre buscou a reorganização e empoderamento da comunidade em torno de sua autonomia, soberania, conscientização e luta efetiva por direitos. Para isso, contribuiu no processo de construção da Resistência à reintegração de posse em torno das barricadas, no modelo aplicado na Ocupação Novo Amanhecer, em Aracaju. Essa resistência, que visava atrasar a ação da polícia enquanto se buscava instrumentos jurídicos para reverter a decisão judicial, foi reprimida em Carmopólis com força desproporcional.

Diversas irregularidades podem ser apontadas na ação de hoje pela manhã por parte da Polícia Militar do Estado de Sergipe e do Poder Judiciário, que ordenou a ação a pedido da Prefeitura de Carmopólis: prisões arbitrárias e aleatórias, agressões contra a população, inclusive adolescentes, uso indiscriminado de gás lacrimogêneo e balas de borracha, inclusive apontando o disparo dessa arma pouco letal na altura da cabeça, armas letais apontadas a queima roupa no rosto de pais e mães de família, ameaças... atos dignos de um Estado de exceção. Há inclusive casos de gestantes atingidas por projéteis de borracha, uma delas tendo que ser levada ao hospital com risco de perder o bebê. Diversas pessoas passaram mal. Uma jornalista da imprensa sergipana disse que a última vez que havia testemunhado algo semelhante foi durante a ditadura militar.

Estavam presentes durante toda a manhã representantes da Comissão de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de Sergipe, Alfredo Nikolau e Miguel Cerqueira, que atestam os abusos cometidos durante a ação. “Há o direito à propriedade, o que se procurou garantir aqui nessa ação de hoje. Entretanto, uma Lei Constitucional é superior, logicamente, à uma lei do Direito Civil e as Resoluções Internacionais da ONU sobre ações de desocupação de áreas como essa tem peso de Lei Constitucional. Portanto, pode-se dizer que faltou conhecimento jurídico aos juízes que autorizaram essa ação: são analfabetos jurídicos”, disse Miguel Cerqueira.

O resultado foi a grande covardia cometida na manhã de 20 de novembro – dia da Consciência Negra. Essa nota começa dizendo que esse poderia ser um dia triste. Poderia, mas não será. O sentimento que nos toma e nos une é o de indignação. Perdemos uma batalha, mas a luta por moradia continua e a comunidade irá mostrar para o mundo os abusos cometidos pela Prefeitura de Carmópolis, pelo Poder Judiciário e pela Polícia Militar do Estado de Sergipe. Só uma palavra gerada a partir dessa indignação e ela se chama insurgência. Anotem: a insurgência virá e a injustiça não avançará.

Terra Livre Sergipe

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Prefeitura tem até dia 5 de novembro pra resolver o auxílio-moradia

Depois do acordo firmado pela Prefeitura de Aracaju com a Ocupação Novo Amanhecer, com a Defensoria Pública e com a Secretaria de Movimentos Sociais do Estado em conceder os auxílios-moradia até a primeira quinzena de outubro, o movimento foi desrespeitado ao receber o informe da Prefeitura de que não seria concedido o direito e nem se apresentaria nenhum prazo por questões financeiras

Desta forma, nessa terça, dia 22, a Ocupação Novo Amanhecer organizada saiu da prefeitura com um documento assinado por Luciano Paes, Secretário de Planejamento de Aracaju, no qual ele se compromete a resolver a questão no dia 5 de Novembro. No encontro ainda foi garantido banheiros químicos para as famílias ocupadas, acordo que fazia parte da negociação anterior.

Neste sentido, nós do Movimento Terra Livre e da Ocupação Novo Amanhecer nos manteremos mobilizados e atentos para que dia 5 de novembro seja o dia da Alvorada. Caso isto não aconteça, o movimento iniciará a RETOMADA URBANA!


domingo, 13 de outubro de 2013

Dia das Crianças feliz na Ocupação Novo Amanhecer

Naquilo que pode ser uma prévia de uma semana de conquistas, a Ocupação Novo Amanhecer viveu uma tarde de sábado, dia 12, de muita alegria em comemoração ao Dia das Crianças. Brincadeiras, presentes, cachorro-quente, pipoca, salgadinhos, doces e muita integração alegraram a comunidade que há sete meses luta por moradia digna para 311 famílias.

Nesta semana sai o resultado do cadastramento da Prefeitura Municipal de Aracaju, determinando as famílias que terão direito a auxílio-moradia já a partir desse mês, bem como inclusão em programa de moradia popular para que tenham um imóvel próprio no final de 2014.
 







quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Moradores da Ocupação Novo Amanhecer receberão moradia até final de 2014

A Prefeitura de Aracaju se comprometeu em contemplar as 311 famílias cadastradas na Ocupação Novo Amanhecer - 17 de Março com habitação até dezembro de 2014. Até o dia 15 de outubro, a prefeitura apresentará o número de famílias que receberão emergencialmente o Auxílio-Moradia

Após reunião realizada na manha de terça, dia 17, com a Secretaria Estadual de Articulação com os Movimentos Sociais, Defensoria Pública, Secretaria de Saúde do Município e Comissão de Direitos Humanos, a Prefeitura se comprometeu com as representações da Ocupação Novo Amanhecer a contemplar as famílias com moradia e auxílio-aluguel. Na reunião, foi apresentado às lideranças do movimento que as famílias cadastradas nas condições do programa de habitação receberão as casas até dezembro de 2014. Quanto aos auxílios-moradia, a Prefeitura argumentou que priorizará as famílias mais necessitadas.

Os representantes da Defensoria Pública do Estado de Sergipe sustentaram que cabe à Prefeitura apresentar os argumentos para conceder um numero menor de auxílios que o das famílias cadastradas, mas informou que acompanhará de perto os critérios considerados pelo poder público para a concessão. Durante a reunião, os moradores falaram das extremas dificuldades e das condições desumanas vividas na ocupação, como a presença de epidemias de doenças infecciosas nas crianças e da falta de condições básicas. "É um problema de saúde pública: o povo quer uma definição urgente pois as nossas condições estão cada vez mais desumanas", afirma uma das lideranças do movimento, Antony Santos.

Ao fim da reunião ficaram acordados os seguintes itens:

1- A Prefeitura se comprometeu a dar prioridade às 311 famílias na concessão das unidades habitacionais (7 mil), que serão construídas até dezembro de 2013;

2- A prefeitura se comprometeu a apresentar, até o final da 1ª quinzena de outubro de 2013, a lista das famílias que serão contempladas com auxílio moradia, considerando a situação de gravidade em que se encontram as famílias que atualmente moram na ocupação;

3- A Prefeitura acordou com a representação de moradores e com outros representantes presentes que irá orientar a procuradoria para que não demande nova reintegração de posse até a apresentação de uma solução definitiva às famílias do 17 de março (mediante proposta de suspensão da reintegração em acordo entra as partes);

4- A Prefeitura, juntamente com o Estado, se comprometeu a buscar, emergencialmente, ações que minimizem o sofrimento das famílias, como a concessão de uma tenda e banheiros químicos até a divulgação dos nomes;

5- A Prefeitura, com a presença da Secretaria da Saúde, se comprometeu a acompanhar de perto as demandas das famílias do 17 de março, especialmente nas medidas de tratamento ambulatorial para crianças e idosos, acometidos por endemias de causadas por zoonoses e doenças sazonais (bicho de porco, catapora, etc)

6- Por último, a Representação do Governo do Estado, juntamente com a representação da Comissão de Direitos Humanos do Estado, irão buscar junto à Secretaria de Segurança Publica intervir para que a postura da polícia militar seja readequada quanto ao tratamento aos moradores da Ocupação Novo Amanhecer. Essa demanda foi apresentada pelo clima de hostilidade, truculência e belicosidade que foi identificado pelos moradores da ocupação em inúmeras "visitas" realizadas pela PM em suas diversas divisões corporativas.

Ocupação Novo Amanhecer - 17 de Março / Terra Livre

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Contra a intolerância do poder, as barricadas pela Terra Livre por um Novo Amanhecer

*Vinicius Oliveira

Fotos: Pedro Alves


Aracaju, Sergipe. Dia 30 de Julho, terça-feira. A manhã começou diferente do que qualquer outro dia desses 4 meses. Se no céu ensolarado aparecia um arco-iris, no asfalto que dava acesso a ocupação, barricadas de quase dois metros de altura fechavam as ruas. Era a necessidade de 311 famílias depositadas em uma estrategia de organização e resistência, que tinha começado 4 meses antes.

Organizar o passado é uma evolução nas lutas

Era apenas um areal chamado de praça,entre um dos maiores bairros da periferia e a zona de expansão (ou especulação), sem qualquer equipamento público, inexistente para os olhos do poder público, mas a necessidade de famílias fizeram com que vida brotasse neste terreno. Faz quatro meses que essas famílias manifestavam-se periodicamente pela moradia ou até mesmo pelo auxilio-moradia. A compreensão dos seus direitos veio relacionada com a organização, que veio somado com a luta.

Mas a Prefeitura foi intolerante desde o começo, pedindo a reintegração de posse da área, marcada pro dia 4 de Julho. Incursões policiais noturnas com capuz e metralhadoras eram comum. Pobre e favela muito perto de território das construtoras não pode ser tolerado. A intolerância aos pobres e movimentos sociais parece ser a regra da prefeitura de João Alves (DEM). O adiamento da ação de reintegração marcado pro dia 4 de Julho, aconteceu porque a Policia Militar e a Prefeitura não tinham estrutura e política para encaminhar a ação em meio as mobilizações de rua que aconteciam em todo o país e em Aracaju. A reintegração foi marcada para o dia 30 de Julho, avisada na quinta-feira informalmente por um policial e um oficial de justiça sem nenhuma decisão judicial. A decisão judicial saiu no outro dia ás nove horas da manhã, como quem encomendada de presente para o fim de semana.

Desafiando todo o autoritarismo e movidos pela necessidade e convicção a ocupação Novo Amanhecer-Movimento Terra Livre ocupou a Prefeitura de Aracaju durante a manhã do dia 29 de Julho, pra requisitar a retirada ou adiamento da reintegração até que as famílias tivessem a consequência do cadastramento que era o auxilio-aluguel e construção das casas.

Com uma certa truculência dos policiais que proibiram o acesso ao banheiro até mesmo pra crianças e gestantes, e exigindo ser recebido pelo prefeito ou o procurador, nenhum dos dois jamais apareceu.A secretaria municipal de assistência social respondeu que precisava de 60 dias pra apontar quem iria ganhar o auxilio-aluguel pelos parâmetros da lei, mas não quis compreender que as famílias então precisaria de mais 60 dias no local que sem água, sol e muitas chuvas já era uma reintegração natural.A prefeitura que estava vazia do prefeito mas cheia de povo sentiu-incomodada, quase violada pela presença e um certo atrito aconteceu entre os manifestantes e a polícia, mas ninguém foi preso e nada foi danificado,a  não ser a imagem pública da prefeitura. O movimento sabia que o papel estava cumprido, a reintegração não seria mais possível de ser ignorada pela grande mídia, e os agente da intolerância estava fixado com a falta de diálogo.

As Barricadas

Esse dia começara bem antes, com o desespero inicial ao saber da reintegração sem decisão judicial, com algumas poucas famílias que com medo abandonaram a Ocupação, mas também com o planejamento da comissão de organização. Mas a coragem da população foi mostrada instantaneamente, atos durante todo o dia da sexta e do sábado foram realizados, fechando ruas, pontes e até mesmo a rótula de acesso ao shopping. Não poderia ninguém na cidade não saber da covardia que a Prefeitura poderia cometer, e que sim, depois de vários anos, um movimento, uma ocupação, um povo ousaria resistir.

A resistência era organizada plenamente na auto defesa e na paciência. As quatro ruas de acesso onde a Policia faria o perímetro foram fechadas por grandes barricadas com quase 2 metros e um grupo de pessoas atrás, uma equipe de comunicação atualizava a cada minuto nas redes sociais. Água e comida foram estocadas e providenciadas para todo o dia. Militantes do movimento estudantil que rompe amarras, do PSOL e fotógrafos chegaram antes e ajudaram nas tarefas.Coletes de borracha e escudos de latão simbólicos foram criados com uma frase direta em todos eles: "PAZ com Direitos".

Duas horas da madrugada foram subidas as barricadas, o amanhecer nunca tinha demorado tanto, até que as 5 horas o sol apareceu e trouxe um grande arco-iris de boas vindas a luta. A polícia começou a chegar com o amanhecer mas se surpreendiam ao ver as barricadas e davam marcha ré. A população movida a café puro e muita indignação estava disposta a resistir ou resistir, se a prefeitura tinha um mandado judicial, as famílias tinham necessidades e convicção nos seus direitos. Não demorou muito tempo para que chegassem as rádios, e o comando da operação avisou que não existiria negociadores nem negociação, nem representação da Prefeitura foi mandada, a polícia de choque e a cavalaria ia se preparar em instantes.

Mas do outro lado de cá da barricada estávamos preparados, nossos advogados foram brilhantes na sua atuação e negociação, total defesa do povo trabalhador e faca amolada no argumento e no direito, a comissão organizadora dividia-se nas tarefas e na observação tática da polícia militar, manter as pessoas atrás das Barricadas e não deixar se cansar com cada aparição policial. A polícia chegou com helicóptero e querendo amedrontar a mídia dizia que não garantiria a segurança. Mas os ocupantes garantiam que a mídia era bem vinda, apesar de não podermos confiar totalmente a intolerância da Prefeitura de nem mandar representante e possibilidade de conflito iminente favorecia o movimento a se colocar na ofensiva. A cada preparação da Choque e da Cavalaria, as famílias gritavam bem alto: "Pela nossa casa, pela moradia, pela Terra Livre, lutaremos todo dia".

Metade da manhã, a moral da policia estava tão baixa que um dos cavaleiros com a passada do helicóptero perdeu as rédeas do cavalo que caiu em cima da perna dele, a ambulância teve que ser chamado tempos depois. A cada ameaça da polícia mais palavras de ordem surgia: "Não Passarão, Não passarão". Os defensores públicos estavam com os manifestantes informando que iam ficar do lado do movimento. Até que finalmente a polícia veio comunicar que iria começar a operação e pedindo que retirassem as crianças e idosos, o desespero tomou conta de alguns manifestantes que pegaram paus e começaram a bater nos escudos e nas barricadas. Um barulho ensurdecedor mostrava que a resistência poderia chegar ao confronto. Mesmo sabendo que os 300 homens da polícia tinham equipamento superior e treinamento, os ocupantes estavam irredutíveis na sua convicção. A policia teve que recuar.

O sol de rachar não dava trégua, a fome começava a bater nas barricadas. Apesar do aparente recuo dos policiais era preciso manter a posição. Um prato de comida foi dividido entre 3 ou até 4 pessoas. A cotinha do dia anterior quase não dava pro tanto de gente disposta a lutar. Até mesmo as crianças brincavam e vestiam-se pro embate, na esperança de que aquilo tudo fosse apenas brincadeira. As 15 horas, veio a noticia oficial do comandante da polícia militar, o juiz retirou a ação, a polícia ia se retirar e pedia que os ocupantes removessem as barricadas. As barricadas que fecharam as ruas abriram o caminho.

A luta pela Terra Livre por um novo amanhecer
O rumo dos ventos parece realmente ter mudado após as mobilizações de rua no mês de junho. Não dá pra depois de lutar pelos nossos direitos, ver uma população ser despejada porque luta por direitos. Se no transporte a luta é pela Tarifa 0, na moradia a luta deve ser pelo Despejo 0. Ninguém que não tem um lugar pra ser chamado de lar, poderia ter a calçada como espaço de descanso. Os movimentos precisam aprender com esse movimento que não dá mais pra recuar, não dá mas pra apenas sair, não dá mas pra deixarmos de lado nosso direito de auto-defesa contra um Estado que extermina nosso povo pobre trabalhador e sua juventude.

O movimento estudantil e de juventude cumpriu um papel fundamental na comunicação, nas barricadas e na experiencia inclusive anterior de vários militantes da comissão de apoio do movimento Terra Livre, não basta-se travestir de popular, tem que com humildade, convicção ideológica e do papel dos governos contribuir com sua experiência na luta do movimento popular de massas.

A luta pela terra Livre por um novo amanhecer não teve sua guerra vencida. Mas teve uma grande e importante batalha conquistada. Não é qualquer coisa, fazer com que quase todo o batalhão de choque,cavalaria, helicóptero seja mobilizado, preparado, armado em bairro de periferia e tenha que recuar. Não é qualquer coisa, sem nenhum parlamentar com peso social um movimento  e sua brilhante advocacia fazer um juiz suspender  sua própria decisão no final de semana anterior

 A prefeitura mais intolerante ter que tolerar a vitória de um movimento social organizado. Como bem lembrava Florestan Fernandes "contra a intolerância dos ricos a intransigência dos pobres", aqui a frase foi atualizada para "Contra a intolerância do poder as barricadas pela Terra Livre por um novo amanhecer".

*Vinicius Oliveira é da nova organização do PSOL, militante do movimento popular Terra Livre e ocupante por um Novo Amanhecer

quarta-feira, 31 de julho de 2013

VITÓRIA DO POVO!

RESISTÊNCIA OBRIGA PODERES CONSTITUÍDOS A SUSPENDER REINTEGRAÇÃO DE POSSE DA OCUPAÇÃO NOVO AMANHECER

A Prefeitura de Aracaju apostava numa operação “simples”, sem muitas complicações, quando articulou um aparato repressivo para despejar as 311 famílias da Ocupação Novo Amanhecer e dar um duro golpe na mobilização popular. Mal sabiam os gestores municipais e estaduais que o verdadeiro e certeiro golpe seria dado pelo povo, numa clara demonstração de coragem contra a opressão diária que se sintetiza com especial crueldade entre as famílias desse foco de resistência no Bairro 17 de Março, em Aracaju-SE.
Foto: Victor Balde

Desde as primeiras horas da manhã de terça, dia 30 de julho de 2013, quando começaram a chegar as unidades policiais, estava claro que um novo patamar de organização e resistência estava montado – cenário muito diferente do primeiro despejo, realizado em março de 2013, quando as famílias foram despejadas de suas casas e, por conta disso, se aglutinaram na ocupação. A visão das barricadas, claramente surpreendeu os policiais, inflando ainda mais o ânimo dos ocupantes que preparavam a resistência durante toda a madrugada para resistir naquela manhã ensolarada.

Aos poucos, os reforços policiais iam chegando, assim como os reforços da resistência: desde diversos movimentos sociais e entidades de luta, até pessoas que vieram prestar sua solidariedade libertária e de luta para a resistência, passando, obviamente, por figuras tarimbadas no cenário político partidário querendo sua casquinha. Para completar o palco, a mídia parecia estar realmente ao lodo do povo, aliviando os tendenciosos desvios de abordagem proporcionados por anos de bajulação e subserviência à comunicação oficial.

Foto: Victor Balde

Foram oito horas de resistência. Oito longas horas debaixo de sol a pino, sobre o chão que sempre foi palco de humilhações do poder constituído e que agora servia de tablado para uma demonstração clara de que os tempos são outros. A resistência montada, com barricadas, escudos, coletes, máscaras de gás, tudo artesanal e produzido em mutirão dos ocupantes durante a madrugada mandou um recado claro para quem acha que detém o poder de reprimir o povo: não há poder que possa com a organização popular!


CAMINHOS JURÍDICOS
Foto: Victor Balde
A vitória do povo conquistada foi fruto de uma soma entre a resistência popular e a atuação dos advogados da Ocupação Novo Amanhecer, Igor Frederico e Leonardo Lobão, com uma importante contribuição da Defensoria Pública para encontrar os meios legais de impedir que mais essa injustiça fosse cometida contra essas famílias. Igor explica que havia duas ações em pauta: a de reintegração de posse, em favor do município e contra os ocupantes, da qual ele era o advogado, e uma Ação Civil Pública, movida pela Defensoria Pública e acatada pelo juiz da 3ª Vara Cível da Comarca de Aracaju, Luiz Eduardo Araújo Portela.

Essa ação determina que a Prefeitura Municipal de Aracaju identifique não só as famílias da Ocupação Novo Amanhecer, mas também das comunidades do Arrozal, Água Fina, Preol, Morro do Avião, Marivan e Prainha que residem em áreas de risco, fazendo o cadastramento e possibilitando que o cidadão possa saber da efetivação dos projetos habitacionais. O município é obrigado também a realizar avaliação para concessão de auxílio moradia, disponibilizar no site da Prefeitura a relação das pessoas cadastradas e beneficiadas no prazo de 120 dias sob pena de multa diária de R$ 5 mil.

Nada disso intimidou a prefeitura a solicitar junto à justiça a reintegração de posse agendada inicialmente para o dia 4 de julho, o que não se concretizou devido a um ofício emitido pela Polícia Militar do Estado de Sergipe destacando que a Prefeitura não disponibilizou apoio logístico necessário à operação. A liminar autorizando a primeira tentativa de reintegração foi suspensa e um novo processo foi encaminhado pela Prefeitura, incansável no objetivo de dispersar as famílias em luta por moradia.

Foto: Victor Balde
Assim, após cadastramento das famílias, uma nova tentativa de reintegração foi aprovada pelo mesmo juiz Rafael Reis, da 12ª Vara Cível, iniciando um processo de mobilização constante entre as famílias para chamar a atenção de toda a sociedade para a arbitrariedade e truculência que estava para acontecer.
Sobre essas duas ações, Igor destaca ainda que as elas têm uma ligação quase que umbilical.

“Na ação de reintegração de posse, o juiz deferiu a liminar autorizando o município a proceder ao despejo da população. Entretanto, na Ação Civil Pública, havia uma decisão no sentido de obrigar o município a cadastrar todas as pessoas daquela ocupação e de localidades adjacentes. Então nós entendemos que para cumprir a decisão da 3ª Vara é necessário que se suspenda a liminar de reintegração de posse até que o município termine todo o procedimento determinado na decisão judicial”, destaca o advogado.


LUTA, REALIDADE E DISTORÇÃO
Foto: Victor Balde
A brava resistência montada pelos ocupantes e a visibilidade que o caso obteve na grande mídia, nas redes sociais e mídia alternativa abriu terreno para que os advogados conseguissem suspender a ação. “Nós [os advogados da Ocupação] estivemos em reunião com o juiz Rafael Reis e argumentamos bastante até que, após a reunião, ele avisou que havia decidido pela suspensão da liminar de reintegração baseando-se em relatório da PM-SE sobre a situação”, aponta Igor.

Foto: Victor Balde
É importante frisar que toda ajuda foi primordial para que fosse alcançado o objetivo de impedir a dispersão dos lutadores da Ocupação Novo Amanhecer. Entretanto, nesse momento surgem figuras conhecidas do cenário político local que, aproveitando-se da vitrine proporcionada pelo acontecimento de terça, posam de decisivos na vitória que cabe, no final, ao protagonismo do povo em resistência. Quem durante os quatro meses de existência da ocupação não prestou um auxílio sequer não pode agora posar como salvador (a) da pátria.

Assim, a luta segue em frente, como um novo ânimo pela vitória nessa batalha decisiva e sempre com o povo na trincheira, erguendo barricadas para resistir à opressão. Que o exemplo do 30 de julho de 2013 inspire a luta não só por moradia, mas a todos os que lutam contra as injustiças e opressões.

Foto: Victor Balde



Foto: Victor Balde



Foto: Victor Balde

Foto: Victor Balde

Foto: Victor Balde


terça-feira, 30 de julho de 2013

Ocupação Novo Amanhecer resiste às injustiças!

"Quero lutar por minha moradia". Assim, com esta frase, mais uma moradora da Ocupação Novo Amanhecer, bairro 17 de Março, inicia a sua manhã hoje, 30, sobre a horrível sensação de despejo.  Enquanto a prefeitura de João Alves insiste em ser contra o povo e a favor dos empresários, 311 famílias formada por homens, mulheres, crianças e idosos vivem em condições subumanas com o único propósito de conquistar direitos para viver - e não mais sub-viver, como querem os governantes. É também com este espírito que Dioleide, 37 anos, dá seu depoimento sobre todo o sofrimento que ela e centenas de amigas e amigos seus vêm passando. Acompanhe:


quinta-feira, 25 de julho de 2013

PREFEITURA QUER DESPEJAR OCUPAÇÃO NOVO AMANHECER

DIREITOS HUMANOS URGENTE!!!

Um oficial de justiça e um cabo da Policia Militar foram na Ocupação para comunicar que na manhã de terça, dia 30 de julho, às 6h, vão proceder a reintegração de posse da área onde hoje se encontra a Ocupação Novo Amanhecer – 17 de Março, com forte aparato policial.

O oficial informou que a prefeitura mostrou o cadastro para a polícia dizendo que está pronto o seu papel e já podia despejar a população. Lembrando que, com o cadastramento feito na semana passada, a Prefeitura não garantiu auxílio-moradia ou moradia popular para nenhuma das 311 famílias.

A Ocupação Novo Amanhecer já decidiu RESISTIR e chama todos os lutadores, apoiadores, indignados com a injustiça a se somar nesta solidariedade e Luta.

Importante salientar que a liminar de reintegração de posse está suspensa e não existe permissão para que a reintegração seja procedida. Ou seja, se for realizada, será uma ação ilegal por parte da Prefeitura de Aracaju e da Polícia Militar do Estado de Sergipe.

Contato:
Dr. Igor (advogado): 9983-5665
Anthony 9969-7580


Página do Facebook: Ocupação Novo Amanhecer

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Prefeitura começa cadastramento das famílias da Ocupação Novo Amanhecer


Desde a manhã desta segunda, dia 15, a Prefeitura de Aracaju começou a cadastrar as famílias da Ocupação Novo Amanhecer, no Bairro 17 de Março. Até a manhã de quinta, dia 18, mais de 200 famílias foram cadastradas.

Segundo os funcionários da Prefeitura, o cadastramento continuará, mas não garante o auxilio moradia. Para Anthony dos Santos o cadastramento representa uma vitória parcial. "Mas a luta é pela moradia ou auxilio garantido para todas as famílias. Enquanto isso, a ocupação permanece", garante.

Contato:
Anthony 9969-7580
Badá 9936-5902


Página do Facebook: Ocupação Novo Amanhecer

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Vida de Ocupante - Mauro Trapezista

*Por Vinícius Oliveira

Mauro era uma cara alto, magro,sempre com boné aba reta e aquela fala malandra agilizada. Nasceu na Terra Dura, quando ainda tinha uma pontezinha que ligava o bairro ao resto da cidade, nem luz de celular tinha naquela época, a luz que iluminava era a da cabeça.


Mauro trapezista ganhou seu apelido em uma pelada, fez um gol e se pendurou na trave, subiu em cima do travessão e começou a caminhar. Coisa de criança, metida a besta por derrotar todo mundo sem pedir próxima. Como bom trapezista oscilou entre a infância e a grana. entregava uns pacotinhos que os meninos mais velho da rua pedia pra uns conhecido de outra parte da cidade. Tirava uma grana e vacilava entre o dinheiro do pão da casa, o leite dos irmãos e a camisa de jogador de Basket ou aquele tênis de marca.

Mauro ficou na corda bamba quando conheceu a polícia militar, tava andando de skate, indo pro baba. Era suspeito, foi revistado 3 vezes, xingado 15 vezes, e teve sua mãe insultado dezenas de vezes. A polícia não achou bagulho algum, mas encontrou uma diversão. Mauro ia passar na pontezinha correndo com as pernas amarradas enquanto os policias atiravam na direção da perna dele. Não tinha trapezista que escapasse. Mauro caiu no córrego, entre as pedras, lascou a cabeça, quebrou a perna e jorrou muito, mas muito ódio. 

Atendido horas depois, o ódio tinha estancado, talvez isso manteve ele vivo, enquanto esperou 12 horas pra ser atendido na emergência do hospital público. Os brothers na volta do baba que levaram ele de bike até o hospital do outro lado da cidade. Ambulancia não passava lá. Mauro criou medo de altura depois do ocorrido.

Mauro Trapezista entendeu o recado, tinha que escolher um lado. Já era condenado por nascença, pela cor, pela palavra, pelo jingado e pelo estilo. Escolheu o crime! Virou narco-comerciante. E com dinheiro no bolso e mandinga na língua, não foi mais incomodado pela polícia. Ganhou o respeito dos irmãos.

Mauro perdeu o equilibrio de novo. Na mesma ponte da sua infância conheceu o amor. Rafaela, morena esperta e distante. Novinha, com uma bunda de perder o folego. Mauro queria sentir aquele trapézio das pernas. Mandou a fita de malastroso e a novinha dispensou.Dispensou, dispensou, até que num daquele shows, com a cerva na cabeça, os dois se atracou.

Mauro perdeu a linha, "tava vacilando" dizia os brothers. Atrasou a distribuição do bagulho aos outros brothers, resultado, vacilão na perifa não perde só a vez, as vezes perde a vida. Os inimigos descobriram e foram pra cima de Mauro. Pá, pou, pá, pou,pá,pou,pá... Resultado: 5 tiros. Por sorte nenhuma na cabeça! Por mais sorte ainda, Mauro foi de novo internado. Como num trapézio de uma montanha gelada e com muito vento, Mauro tava pendendo pra morte.

A morte também vacila, as vezes se adianta, as vezes se arrebita, e numa dessa esqueceu Mauro. Passou 7 meses em coma. O médico, que era de outra cidade já deixava o óbito pronto no final de semana, pra não precisar voltar pra assinar, só era preencher a data! Essa data ainda não ia ser preenchida nesse hospital.
Rafaela que não era vacilante, segurou a onda de Mauro, teve altas fights pros médicos não desligar as máquinas, pro hospital tava custando e não valia a pena. Eles argumentavam uma vida de um vagabundo pela de mães de família que passavam.

Disseram que ele não acordaria e Mauro se levantou. Diagnosticaram que ele não ia mais andar, e Mauro saiu correndo do hospital. Mas a fala dele nunca seria a mesma, alertou a medicina pública moderna, Mauro saiu cantando Brasil com P! Ao lado, Rafaela e a mãe com os irmãos.
Mauro decidiu pendurar-se no trapézio da vida ordinária. do Trabalhador honesto, tá certo, Rafaela e Edi Brown ajudaram um pouco na decisão.Edy Brown, seu muleque que tava chegando. Ficha limpa, não seria dificil. Arrumou oficio de pedreiro, e subiu logo na vida.

Anos passaram, Mauro trapezista conseguiu um trampo extra, na construção de um prédio, no solo claro. Mas no dia 4 de Julho de 2012, Mauro teve que subir por um colega,  lá no 18º andar, senão iam dar falta dele. Resultado: Mauro foi atravessa uma daqueles estruturas sem segurança que as construtoras colocam, e o barulho dos tiros e das risadas ecoou na cabeça. Mauro deslizou, ainda segurou num estrutra que parecia um trapézio, os amigos correram, mas não à tempo. A morte veio cobrar sua amnésia de anos passados.

Hoje, Rafaela equibra-se num trapézio da vida, morando em barraco luta pela sua casinha numa Ocupação por Terra e vida livre. A prefeitura pende,o sistema pende, a polícia pende, o governo prende, mas a solidariedade e coletividade faz ela se segurar. Por quanto tempo, ela ainda não sabe, mas como MAuro aprendeu que mesmo quando ainda tudo parece perdido, vale a pena se segurar.

*Sem correção ortográfica, nem emocional.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Ação truculenta da PM amedronta famílias da Ocupação Novo Amanhecer

Imagem ilustrativa. Obviamente, não nos foi permitido
fazer nenhum registro da dita "ação policial".
Uma ação truculenta e sem justificativa atormentou as famílias da Ocupação Novo Amanhecer na madrugada da terça, dia 18. Numa clara demonstração de desrespeito pelo direito à luta do povo, a Polícia Militar deu uma batida policial no melhor estilo “Tropa de Elite”, com metralhadoras na mão e cortando os corredores da ocupação mirando e intimidando qualquer sujeito que estivesse por ali, acusando os ocupantes por qualquer delito que se denuncia na região.

Resultado: após deixar os moradores sem dormir, nenhuma suspeita se confirmou após uma hora de pânico geral e insônia presente entre as famílias – adultos, crianças, idosos –, porque eles prometerem que voltariam quando “estivéssemos dormindo de cuecas” e quem não tão nem aí pra luta do movimento.

São 300 crianças que ocupam a praça no Bairro 17 de Março desde que suas famílias foram despejadas de suas casas. O pânico da repressão fez crianças se perderem de seus pais por instantes e mães de famílias que viam na televisão as mobilizações pelo país não escondiam a indignação. "Quinta-feira, dia 20, no Ato do Acorda Aracaju, nós damos o troco!", disse uma das mães da ocupação.

Pela desmilitarização da PM e contra os despejos dos Sem Teto! Pelo Direito à Moradia e Moradia com Direitos – Terra Livre!

Página do Facebook: Ocupação Novo Amanhecer



sexta-feira, 14 de junho de 2013

Moradores da Ocupação Novo Amanhecer buscam acordo para evitar reintegração

Na manhã de sexta, dia 14, a comissão organizadora da Ocupação Novo Amanhecer e o secretário de Planejamento de Aracaju, Luciano Paz, tiveram uma reunião para tratar da entrega do cadastramento das famílias e da retirada da ordem de despejo.

A Comissão entregou o cadastro das 460 pessoas que estão ocupando a praça do Conjunto Aquarius próximo ao Bairro 17 de março. Segundo Anthony dos Santos, o trabalho de cadastramento foi feito com muito empenho e sistematização a partir das necessidades das famílias. "Um trabalho que deveria ser feito pela prefeitura, mas que o movimento realizou e agora disponibiliza à prefeitura”, alerta o membro da comissão.

Na opinião dos representantes da ocupação, o secretário tem demonstrado vontade política em resolver o problema, mas os representantes entendem que todos os moradores estão dentro dos critérios da Lei do Auxílio Moradia e que, portanto, devem ser cadastrados com esse intuito.

Segundo o advogado da ocupação, Dr. Igor Frederico, é possível haver um acordo entre as partes em nome do bom senso. "Se a reintegração ocorrer sem o cadastramento da prefeitura, será impossível cumprir a decisão liminar proferida pela 3ª Vara Cível, já que as famílias se dispersarão e será muito difícil identificá-las. Apresentaremos na próxima segunda, dia 17, uma proposta formal de acordo e caberá à prefeitura confirmá-la e evitar esse conflito”, explica o advogado.

A liminar a que se refere o advogado trata de uma Ação Civil Pública feita pela Defensoria Pública do Estado de Sergipe e acatada no começo do mês de junho pelo juiz da 3ª Vara Cível da Comarca de Aracaju, Luiz Eduardo Araújo Portela, obrigando a Prefeitura de Aracaju a conceder auxílio moradia aos moradores da ocupação, bem como fazer o cadastramento dessa e de outras áreas de risco com o mesmo fim. Segundo os representantes, o secretário de Planejamento assumiu o compromisso de que conversará com a Procuradoria e o Prefeito para que esse acordo seja firmado.

“Acreditamos que a Prefeitura tem uma grande oportunidade de resolver essa questão e evitar uma grande e flagrante injustiça, que seria o confronto entre moradores e a policia militar. Não temos a menor duvida de que o poder público tem todas as condições para isso”, conclui Flaviano Cardoso, membro da ocupação e do movimento popular Terra Livre.

Histórico
Desde o final de março de 2013, as 360 famílias removidas de suas moradias no Bairro 17 de Março aguardam acolhimento das autoridades para que se cumpra o que lhes é de direito: acesso a auxílio-moradia por parte da Prefeitura de Aracaju, que desalojou as famílias sem nenhuma proposta de solução. Desde então os moradores da Ocupação Novo Amanhecer vem se organizando para cobrar essas soluções, bem como para denunciar a situação de abandono que essas famílias estão enfrentando.

Contato: Anthony dos Santos 9969 7580
Dr. Igor Frederico 9883 5665
Vinicius Oliveira 9988 5898

Página do Facebook: Ocupação Novo Amanhecer

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ato Publico na terça, dia 4, em frente à Catedral

Comunidade de três bairros de Aracaju, incluindo os moradores da Ocupação Novo Amanhecer, se unem na luta por moradia e direitos básicos. Concentração a partir das 8h em frente à Catedral Metropolitana de Aracaju.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O direito à moradia e a moradia com direitos – Parte 1

A cidade como centro de ambições

Originalmente postado por Vinícius Oliveira* no site do Movimento Terra Livre

Se o sistema capitalista arrasta e traz para si qualquer fator de lucro, a  terra e a territorialidade não escapam desse poder arrasador. As cidades que eram as moradas dos trabalhadores para  a exploração no local de trabalho de suas forças converte-se em mais um fenômeno na exploração. A organização espacial, o meio ambiente, acesso à bens públicos (seja escola, creches, posto de saúde), proximidade do centro ou de paisagens urbanas simbólicas para o sistema (como Shoppings) ou ambientais (como praias, rios etc)  viram valoração monetária e  mais motivos de exclusão social e remoções.

Segundo dados de João Sette Ferreira, metade da população brasileira mora em lugares informais (sem os documentos regulamentados) e 20% do total moram em favelas. Lembrando que a primeira vez que a palavra “favela” foi utilizada era como modo claro de criminalização de uma luta popular histórica: Canudos.

A URBANIZAÇÃO alicerçada de investimento público nos bairros ou regiões, quando apropriadas pelas grandes construtoras ou especuladores que mantém grandes bancos de terra ou grandes empreendimentos seja de moradia e comércio geram a “mais valia urbana”. Isso significa dizer que o ESTADO é agente direto da lógica de exclusão social e de uma cidade excludente, quando os bairros mais ricos contém bens públicos de qualidade, como asfalto, segurança pública, transporte público, limpeza, educação, saúde os valores dos imóveis crescem em seu valor de troca (categoria marxista) gerando mais lucros para as construtoras e empresas da área.

É o nascimento e fortalecimento da especulação imobiliária. Porque as construtoras geralmente mantêm um banco de terras sem utilização alguma, aguardando o acordo com o Estado, geralmente em processos eleitorais, visando o investimento público nessas localidades com a combinação desse movimento, grandes prédios e conjuntos residenciais começam a ser levantados e os preços se elevam absurdamente. Nesse esquema, os bancos entram com empréstimos a juros altíssimos e com prestações a perder de vista, que quando o trabalhador não consegue pagar (pela queda cada vez maior do salário real), o apartamento volta para o banco, que mantém vazio até vender por um preço muito maior do que vendido pela própria construtora.

A dita “classe média” sem perceber esse movimento entra nessa ação e se empolga com o Minha Casa, Minha Vida, programa habitacional para famílias que recebem de 3 a 10 salários mínimos do Governo federal que gera um abatimento do valor do imóvel. É a jogada perfeita do Estado capitalista, o cidadão não compreendendo como funciona a política habitacional permite ao Estado que ele transfira dinheiro diretamente para as grandes empresas, em um valor de até 18 mil reais, dinheiro suficiente para a construção de uma casa, se tirássemos a mais valia das empresas, bancos e Estado envolvido neste processo. É a transferência de renda perfeita do Estado para as grandes empresas fortalecendo a cidade empresa.

Na periferia, que tradicionalmente foram ocupações anteriores o Poder público não realiza a regulamentação fundiária. Ou seja, ele não permite a certificação do direito de posse da moradia ou terreno que os trabalhadores residem por vários anos. Isso permite que no futuro, com essa margem de manobra, se for necessário os trabalhadores possam ser removidos ou despejados, como o caso de Pinheirinhos em São Paulo ou de moradores do Bugio em Aracaju. Os argumentos para remoção sempre se travestem de interesse público, seja por questão ambiental ou para construção de grandes obras, como as obras da Copa e Olimpiadas.

A bandeira da Regulamentação Fundiária dentro dos bairros populares e de periferia é importante para sinalizar e disputar a organização territorial para o povo. O contrário desse movimento já acontece com o processo fundiários as avessas, onde os bancos,empreiteiras,construtoras,empresas e especuladores mapeam todo o território que estiver em condição informal compram terras das mãos do poder público ou negociam por grilagem sem a população sequer saber. As associações de moradores e movimentos populares tem que se atentar, que existe inclusive argumentos legais previsto pelo Estatuto da Cidade (2002) que regulamenta a questão no artigo 2 e no Plano Diretor do Municipio.

Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:

XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais;

A cidade vira um dos centros das ambições, parafraseando Chico Science transforma-se  no bojo na superexploração da condição de vida do trabalhador. A mais valia retirada no local de trabalho, é retirada no vampirismo do capital na (des)organização do território. Não existe disputa com a organização de locais de trabalho, são apenas movimentos da dialética do capital financeiro urbano. É como a turma do asfalto gera as favelas.

E para nós, filhos do mangue, lutemos peça reciclagem ecológica da vida, a resistência cotidiana é fato no plano individual, mas precisa encontrar eco na coletividade, na organização popular, sem cercas e sem muros. Na luta pela liberdade e igualdade entre homens e mulheres é imprescindível uma terra livre.

* Vinícius Oliveira é militante do  movimento popular Terra Livre e do PSOL.

PS: O segundo artigo será sobre a falta de moradia e os movimentos populares.



sexta-feira, 10 de maio de 2013

360 famílias em luta por moradia em SE

A ocupação de moradores novo amanhecer é resultado de uma ação de despejo, proveniente de decisão judicial. No dia 21 de março de 2013 o despejo ocorreu sem respeito aos direitos dos ocupantes de casas construídas com verba do governo federal. A prefeitura de Aracaju, em outubro de 2012, era dirigida pelo PCdoB. O prefeito Edvaldo Nogueira estabeleceu o critério de sorteio para entregar unidades as habitacionais construídas.

Diante da situação de abandono que se encontravam as casas no 17 de março, bairro situado na zona sul da cidade, também conhecida como zona de expansão, cerca de 800 famílias desprovidas de casa própria resolveram ocupar estas residências. Seis meses depois, essas famílias foram despejadas, sob o pretexto de que tais unidades seriam distribuídas a população mediante sorteio realizado pela Prefeitura. Tal sorteio foi realizado com inúmeras irregularidades, que vão desde a forma de de divulgação até o fato de o sorteio ter sido realizado no dia 31 de dezembro, dentre convidados pre-selecionados pela prefeitura.

Após o despejo, os moradores começaram a ocupar uma praça nas proximidades das casas. Um movimento inicialmente acompanhado por uma liderança vinculada ao mandato do Deputado Estadual João Daniel (PT/SE), se caracterizou pela ausência de fóruns democráticos, falta de transparência quanto as informações e constituição de uma única líder vinculada a este mandato que não estava na ocupação e portanto não acompanhava cotidianamente a vida das famílias que se aglomeravam a cada dia movidas pelo sonho da casa própria.

Diante de tais contradições, cansados da falta de informações e do método antidemocrático uma comissão de moradores procurou militantes do PSol - Partido Socialismo e Liberdade - para acompanhar a ocupação. Os militantes desta organização passaram a acompanhar cotidianamente a ocupação, propondo assembleias noturnas, assessoria jurídica, comissões de organização e de apoio, com intuito de garantir a autonomia dos moradores em sua luta, o que resultou na organização de creches, cozinha coletiva, oficinas culturais dentre outras ações relacionadas a resistência diária de um povo que a cada dia aprende que ter moradia não deve ser um privilégio mas um direito que deve ser conquistado, mesmo que em lei ele já esteja  garantido.

Na data desta postagem estamos a mais de um mês de ocupação. Enfrentamos a cada dia novos desafios. Aprendemos em um clima de ameaças que a degeneração do PT e do MST ganha contornos criminosos no Estado, que se valem dos benefícios concedidos pelos programas Federais para subverter princípios históricos da luta popular.

Em que pese todas essas dificuldades, a ocupação realizou dois grandes atos públicos em defesa da moradia, e arrancou a atenção da imprensa, da Câmara de Vereadores e conquistou uma visita de 8 parlamentares num cenário de constantes denúncias públicas do descaso do poder público ao sofrimento desta população. Com o período de chuvas a situação da ocupação passou a enfrentar grandes obstáculos, marcados pelo sofrimento de crianças, muitas delas recém nascidas que padecem da profunda privação de direitos humanos básicos e fundamentais como a saúde, a moradia, a alimentação e a educação. Enfim... uma realidade marcada pela ausência de dignidade humana.

Resta-nos a certeza da continuidade na luta e a esperança de que esta triste realidade desperte a solidariedade e a força social necessária à vitória do movimento. Participe deste movimento! Faça contato conosco pelo e-mail ocupa17demarco@gmail.com e envie moções de apoio ao movimento ou de repúdio à indiferença estatal cometida pelo Prefeito João Alves Filho (DEM/SE).